A FEIRA DE HOJE
Para o nosso mundo ser normal,
Eu preciso de escola e juventude,
Mas preciso de páscoa e natal,
Ou de datas que tragam atitude.
Eu preciso dos dias de celebração,
Como os dias que me digam o óbvio,
Mas também preciso ir além da ação,
Que não me torne um ser ignóbil.
Eu não posso lacrar fontes d'água,
Ou jogar as fezes no lar inimigo,
Eu não posso viver o ônus da mágoa,
E me vingar de quem não seja amigo.
Mesmo que eu ache haver um motivo,
O Eterno me pede ser mais tolerante,
Pois eu não posso ser como o livro,
A requerer um intérprete errante.
Eu não faço parte de um só ofício,
Pois a terra vai além das fronteiras,
E não há atalhos para o precipício,
A não ser a morte vendida em feiras.
A feira de hoje tem guerras e ódio,
Que são os produtos mais desejados,
Pois Ares é o dono dos negócios,
E não dá amor a servos e bardos.
Se eu brigo com alguém na rua,
Não devo destruir todo quarteirão,
Nem cada noite é um quarto de lua,
E nem a coruja tem sempre razão.
Gengis Khan não deve ressuscitar,
Nem sua memória serve de exemplo,
Mas nós devemos o amor venerar,
Sem esse ódio que vejo e lamento.