EMPRENHADOS
As verdades são pedras no escuro,
Promovem o tropeço ao cego que vem,
Destampa a panela da bruxa do ouro,
E mostra o valor que o ouro não tem.
Eu lembro da caatinga e o ar puro,
Sacudido pela poeira e tudo a secar,
Sonhando com chuva e fruto maduro,
Mas quando eu veria as gotas do mar?
Disseram que tudo era só castigo,
Mas fui estudar o relevo da Terra,
E vi que ela não é o meu inimigo,
Apenas não fiz a escolha correta.
Tem gente que busca um vale de rio,
Constrói sua cabana esperando viver,
Mas não estuda enchente ou estio,
E vê o seu lar se esvair e morrer.
Tudo o que faço tem regra e passado,
Pois fui caçador, mas já fui a caça,
Não lembro do fogo e o tempo de gago,
Nem a pintura rupestre feita de graça.
A terra é sem dono e não é imortal,
Mas isso vale para todo ser vivo,
E se quero ser capa de um jornal,
Eu finjo ser o deus que vos digo.
Nós somos emprenhados pelo ouvido,
E as religiões deturpam as verdades,
Criam abestados com nariz comprido,
Assim como o orgulho e as vaidades.
Quem acha que existe povo escolhido,
Não estudou sobre Ur e a Caldeia,
Não viu que a fábula é só um artigo,
Buscando dar crédito a uma idéia.
Quem mata um amigo pensando vencer,
Quer ter razões e não diz da inveja,
Diz que era bandido, para convencer,
E quer ser dono, pois tudo me nega.