O QUE ENXERGO PELA FRESTA
Andei por caminhos escuros,
Fugi da pureza dos sonhos,
Furtei meu suor mais maduro,
Dos dias de fé em meu sono.
Acordei à noite em soluços,
E o corpo travando de dor,
Com minhas veias sem pulsos,
E o olhar já mudando de cor.
Eram estertores de um fraco,
Sem ter mais energia ao dispor,
Dizendo que a morte é um trato,
Que se faz antes de ter valor.
Os homens, depois do contrato,
Que fazem com o ouro e o suor,
Não querem morrer, isso é fato,
Se pode haver algo de melhor.
E a espada nos rasga a sorte,
E atravessa o corpo e o crânio,
Deixando na cruz nossa morte,
Com adornos de rosa e gerânio.
A história é cheia de crueldades,
Desde quando os homens guerreiam,
Seja em Roma ou outras cidades,
Onde as carpideiras pranteiam.
É o que enxergo pela fresta,
Desde o dia em meu calabouço,
Que a vida me dá ou empresta,
Se não compro além do meu osso.