MEU MAR NEGRO
Meu caminho de anjo é sem nome,
É sem faixa, asfalto e descalço,
Não é Via Ápia ou no Yellowstone,
Mas tem oliveiras sob os astros.
Se um dia eu fosse uma figueira,
Que viu angelim, álamo e carvalho,
Talvez fosse a brasa da fogueira,
Ou apenas uma sobra do orvalho.
Bem ao lado de um velho cipreste,
Tinha um córrego de água plácida,
Sendo um solo com medo da peste,
Como os ratos fugindo da Trácia.
Meu mar negro banhou velhos povos,
Como as noites guardam as corujas,
Em arrepios que trincam os tijolos,
Pois um lobo sugere que fujas.
Eu queria ver lobos em árvores,
Mas esse dom é dado aos felinos,
E, por isso, escuto seus graves,
Como um canto ninando "los ninos".
E as corujas perfilam nos montes,
Me lembrando o que devo aprender,
Pois saber o segredo das fontes,
Diz qual sangue a terra vai ter.
Se meu caminho perscruta o cosmos,
Talvez venha a saber como é Órion,
Que lateja entre luas e meteoros,
E me aquece sobre um promontório.
E assim, celebrarei meu Mar Negro,
Tão misterioso pelas turvas águas,
Ao navegar enquanto ouço segredos,
No sereno em que Zeus me aguarda.