ALÉM DE BICHO
Era uma casinha na zona rural,
Entranhada num local familiar,
Junto a ela não tinha matagal,
Mas a caatinga clamando lutar.
O curral já não era do bode,
Mas lá havia cascavéis no lugar,
Como a cobra coral tem um lote,
Então, fui ao Butantan conversar.
Se não posso plantar sem água,
O que acham ter veneno no lugar?
Pois o milho morreu pela praga,
E o feijão já não há pro jantar.
Todos nós precisamos ter renda,
Desde a era do escambo comum,
Pois não posso ter uma fazenda,
Que produza o que dá em jejum.
Então furo no chão a cisterna,
Onde o poço dará leite e mel,
Pois com água o gado próspera,
E as abelhas semeiam meu céu.
Lá eu edifico a boa varanda,
De onde assisto o por do sol,
E o fogão de lenha me chama,
Com o cheiro de carne-do-sol.
Mas bem antes planto macaxeira,
E as batatas que também cozinho,
Pra coar meu café na chaleira,
E sentar entre as aves no ninho.
O meu lar é rede e manjedoura,
Me servindo de berço e guarida,
Mas é preciso ter paz duradoura,
Pois é assim que celebro a vida.
Nas andanças que tive na labuta,
Vi mais mortes do que parto feliz,
Pois o homem é como pedra bruta,
E sendo voraz, não sabe o que diz.
O erro humano é a luta intestina,
Matando seu próximo sem lamentar,
Achando que irá além da esquina,
Mas a nossa sina é só caminhar.
Como espécie é preciso ser bicho,
E lembrar que a tormenta é breve,
Não ter desespero diante do lixo,
Senão o futuro será dos vermes.