DE ONDE SOU?
Talvez um dia me volte à Pátria,
Se a saudade me diz tão longínqua,
E de onde eu virei, era o pária,
Que me fizeram crer pela míngua.
Já fui riquíssimo de entusiasmo,
Mas sei que não há Pátria real,
Desde o dia que o rio está raso,
E não há mais fronteira e quintal.
Hoje nosso mundo é globalizado,
E nós vamos onde o vento levar,
Nós falamos sem estar ao lado,
E só falta em Plutão eu estar.
Algum dia serei pequeno príncipe,
Em colóquios nas bordas de Órion,
Ou também vou à sibéria com linces,
Ouvir um rock em algum sanatório.
Sei que sou um arquétipo da terra,
Mas eu sei que é preciso navegar,
E singrar mares com um peixe-serra,
Se o meu dragão não vier me levar.
Falei de Pátria, mas de onde sou?
Eu que venho de castros e savanas,
Misturado ao oriente em que vou,
Com o olhar rebuscado em cabanas.
Se fui índio, preto ou mesclado,
Nada importa, pois sou só humano,
Se sou fruto de mares salgados,
Ou se amanhã eu serei desengano.
Quero apenas ser ético no mundo,
Pois a moral me bitola e castra,
E se hoje sou um pobre vagabundo,
Não diga que o Brasil me basta.