RESTO DE TACHO
Toda família precisa de amor,
Senão tudo acaba em hospício,
Sem futuro que faça um favor,
Mas pavor de cada sacrifício.
Só ter Pai e Mãe não basta,
Pois a casa não é só paredes,
Mas é teto, escova e pasta,
E um lugar de colos e redes.
Ser humano é resto de tacho,
Pois chegou numa vida obscura,
E seu ciclo não cabe um riacho,
Muito menos o mar que procura.
Temos chance de ganhar um tempo,
Se tivermos diálogo com a Terra,
Senão esse ciclo irá com o vento,
Como inverdades que logo encerra.
Todos buscam resposta pra morte,
E divagam aviando mil religiões,
Todas se arvorando como transporte,
Para um céu que só vende ilusões.
Se manter como eterno exige mais,
Sem palavras, mas gerando filhos,
Pois o resto é se achar demais,
Ao ser como trem fora do trilho.
Só há vida pela ancestralidade,
Senão hoje eu seria um deserto,
Sem oásis e sem qualquer cidade,
Só um símio sem letra e caderno.
Estaríamos sem pés e sem braços,
Rastejando com presas ou veneno,
Ou seríamos minhoca de pássaros,
Sem saber se adubou um terreno.