DATA SIMBÓLICA
Mais uma data simbólica chega,
E eu não percebo suas razões,
Desde quando a feira é de xepa,
E a fome não me traz ilusões.
O poder decanta a liberdade,
Mas mantém os circos e o pão,
A me torturar com a vaidade,
Em jogos de morte ou canção.
Todo dia tem música e teatro,
Tem lavagem e também carnavais,
Mas nos falta comida no prato,
E a saúde em nossos hospitais.
Deixaram o povão nos desertos,
Sem poesia e livros, mas na fé,
Iludidos por deuses incertos,
Pois Deus fez homem e mulher.
Se não vejo esse ser inefável,
Tudo inspira em cada criatura,
E até mesmo no céu demonstrável,
Pois o caos é minha formatura.
Tudo é feito de energia e tempo,
Como a luz da estrela que vejo,
E o calor que me chega no vento,
Mesmo quando a brisa é um beijo.
Mas, aqui nessa terra Brasilis,
Onde Pindorama seria o seu nome,
Chegaram com o ferro e a bílis,
Junto com a falência do homem.
Vieram da terrinha os ladrões,
Com a desculpa de um colonizador,
Mas foram tão apenas vendilhões,
E nos venderam por fé e terror.
Como a fé e meu corpo são um,
Eu não pude viver a liberdade,
Nem poder saudar o meu Ogum,
Pois fui só escravo e saudade.
Os homens são piores que bicho,
Pois matam só pra ter o prazer,
De dizer pros demais que sou lixo,
Quando não sirvo sem nada dizer.
Mas o rico se acha com mérito,
Ou até mesmo se julga imortal,
E, por isso, sofro o descrédito,
Pois só sirvo como seu capital.
Hoje o circo está montado na praça,
Mas há guerra nas ruas e guetos,
Se deram a droga e cachaça de graça,
E o povo vive de vício e amuletos.
Quando não estão todos chapados,
Estão de joelhos nos templos,
Achando que sejamos culpados,
Mas Deus não está nos conventos.
Deus é parte de tudo e é natureza,
Pois nela eu vejo o que Ele cria,
Vejo que o dia de hoje é certeza,
De que vivi mais do que merecia.
Se o dia de hoje eles comemoram,
E o simbolismo é serem libertos,
Eu digo que é na Bahia que moram,
Quem enfrentou inimigos, por certo!