LOUCAS TORTURAS
Singeleza não é para todos,
Muito menos para os poetas,
Pois a rua pode ter esgotos,
Mas lá posso ver os cometas.
Quando eu me escondo em porões,
Sinto o cheiro de ratos e lodo,
Mas se o asco for das mansões,
Com certeza, fui carne de lobos.
Quando a casa era mal assombrada,
Me falaram que o bem lá morreu,
Sufocado por um tal Torquemada,
Que me lembra quem é o plebeu.
Não esqueço das loucas torturas,
Preceito europeu aqui na América,
Dizendo que eram só aventuras,
Como um safari ou saga homérica.
Matavam leões junto com as tribos,
Fazendo colares de marfim e dentes,
Falavam em sermões sobre os ritos,
Ao crer na ilusão de serem semente.
Mas em cada final de jornada,
O que sobrava era o hospício,
Que nem com a cachaça curava,
Pois dor e morte eram vícios.
Portanto, eu não me envaideço,
Pois o sal que tempera, adoece,
E no solo que a riqueza é sal,
Na verdade, cada vida perece.