ALÉM DA TERRA
O que haverá além da Terra,
Se não poderemos ir até lá?
Então, porque não se conserva,
Nem se conversa sobre o lar?
Morar é nosso ato de agora,
E não precisam se agoniar,
Pois tempo é gesto da hora,
E nossa penhora é só lutar.
Não entendo viver no escombro,
Onde destruímos a própria casa,
E se me arrependo de ser humano,
É a falta de amor que descasa.
Eu penso nos bichos de outrora,
Mas também nos que ainda existem,
Será que são mesmas fauna e flora,
Se a radiação e o veneno insistem.
Os ricos se acham imunes a tudo,
E esquecem dos vícios que abraçam,
Plantam orgânicos e vivem do luto,
Se nas mortuárias tudo disfarçam.
Corpos apodrecem, mas há maquiagem,
E as múmias são sombras de orgias,
Quando gozam ao pensar que a viagem,
Se faz com o corpo e não os dias.
Somente os átomos é que perduram,
Pois tudo é fruto dos seus segredos,
Se formam os vírus que nos apuram,
E, nas tragédias, afloram os medos.
Se temos os dedos, os pés e cabelos,
Ou temos dentes de vários cortes,
Se comemos da carne até dos camelôs,
Quiçá, padeçamos da mesma sorte.
E se é sorte ou azar, veja os búzios,
Ou olhe nos fótons do seu ascendente,
Se nasceu do acaso ou do subterfúgio,
Ou teve parteira, mas hoje é doente.
Na realidade somos vida do passado,
Mas não queira ser alguém do futuro,
Pois a vida é presente e não achado,
E esse contrato é salto no escuro.