GALO NO DE RÉIS
Toda vez que eu transitava,
Pelos caminhos da Rio-Bahia,
As estradas que eu achava,
Eram de dor ou de alforria.
Mas, foi lá pelos Milagres,
E também perto de Brejões,
De Itarana e dos compadres,
Com o sabor sem os tostões.
Nesse trecho tinha o De Réis,
Na margem direita da estrada,
E foi andando légua à pés,
Ou de carro feito a lata.
Lá moravam gente humilde,
E tinha um cego a conversar,
Com a matraca que decide,
Qual galo ele vai cozinhar.
Lá se escolhe até o bicho,
Antes de ir para a panela,
Tudo enquanto há o fuxico,
Com sinuca sob pau de vela.
Serviram cachaça e até cerveja,
E o jogo era pra atiçar a fome,
Tudo isso enquanto o bode peleja,
Para comer o licuri desse homem.
Lá é o miolo da boa caatinga,
Como um pedaço da mata de cipó,
Transição que tem a jacutinga,
Tem a preá, a cutia e o mocó.
Nesse trecho tem locas de pedra,
Tem sertão que castiga de fato,
Pouca água, mas dá como regra,
O sustento pra índio e mulato.
Mas enquanto a panela fervia,
O cego conversava com a gente,
E a viagem era o prazer do dia,
Não o perigo da curva à frente.
Logo antes, vi Cem e o Setenta,
E passei nas bordas do ribeirão,
Vi o Recreio dos anos setenta,
E lembrei de São Tomé na oração.
Ressuscitei conversas de Alice,
E também fui prosear com Firmino,
Eita, que o velho avô lá me disse,
Sobre o ouro que viu desde menino.
Mas se foi, sem achar a fortuna,
E o lugar já nem é da sua família,
Foi para o além do grande Kalunga,
Com o berrante e um rádio de pilha.