QUERO O SINO
Andar por leitos de rios,
Ver meu sertão virar mar,
Olhar do alto de um trio,
Ter o carnaval sem pular.
Estar seguindo as canções,
Enquanto toco meu atabaque,
Ter um frisson de emoções,
No êxtase do bom conhaque.
Servir de guia às nações,
Falar de paz ante a guerra,
Talvez nos faça de irmãos,
Mesmo além de mar e terra.
Somente o tempo é quem diz,
Qual segredo da vida eterna,
Como os voos de cada perdiz,
Não dizem se há sol na serra.
Só me falta dizer o que fiz,
Enquanto tiver raposas e uvas,
Pois plantei e reguei a raiz,
Mas o fruto depende da chuva.
Se tenho água, tenho o tanque,
Se for vento, terei as nuvens,
Se sou veia, eu vivo do sangue,
Mas só plante o que te cures.
Quero o sino que diz onde rezo,
E os badalos serão como réquiem,
Pois as carpideiras que prezo,
Serão senhoras que não pequem.
Vou dizer em meu último verso,
As palavras que ainda não sei,
E por isso, declamo e não peço,
Seu silêncio em modos de rei.