NÃO SOU NEM JOÃO
É chegada a hora de uma decisão,
E há um carro muito veloz na porta,
Nosso compromisso é lá em Plutão,
Mas devemos ver Urano na volta.
Qual cometa virá nos visitar,
Se o arco solar já está cheio?
Há satélites de Musk no altar,
E até o luar eu não romanceio.
Me pediram um poema sobre mar,
Mas caiu um meteoro no Índico,
E um maremoto me achou no lugar,
Pra dizer que eu não sou único.
Se não sou ermitão e nem João,
O que faço ao ver gafanhotos?
Pois o meu éden é uma alusão,
Aos meus sonhos desde garoto.
Lá eu voava com capa e tridente,
Via os raios saírem pelos dedos,
Fui uma águia de dons imanentes,
Ou fui Posídon e Zeus em segredo.
Assistia a tudo e dava pitacos,
Nas conversas de todos adultos,
Vi a Terra e o Sol de Aristarco,
Pois nada é plano, nem absoluto.
Agora estou num carro astronave,
E não sei se é delírio ou sonho,
Ou serei uma lagosta ou bivalve.
E logo irei pelo abismo medonho.
Quero renascer noutra dimensão,
Mas espero ver os mares e rios,
Pois eu quero beleza e paixão,
Que ouvir melodias e os pios.
Vou querer ver aves e ninhos,
E as corsas junto com esquilos,
Ver os lemures tomando vinhos,
Eu ceando com os maltrapilhos.