TODOS MEUS DIAS
Meus veios de sangue secaram,
E o chão está manchado e triste,
Mas as feridas não cicatrizaram,
Desde quando o carrasco insiste.
Todos meus dias são de torturas,
E as correntes já nem enferrujam,
Pois não há intervalo pra cura,
Nem lavam as mãos que se sujam.
E assim, imagino estar com Pilatos,
Ao ser julgado em um outro tormento,
Pois há quem diga: - Nunca maltrato!
Mas se prestam a ver nosso lamento.
Vejo pessoas em prol do fascismo,
Mesmo quando se dizem altruístas,
Pois nada sabem sobre o comunismo,
Quando se acham seres capitalistas.
Mas o capitalismo é para poucos,
E o resto são os seus serviçais,
Os quais vão ser sempre os tolos,
Porque se acham os seres normais.
Para mim, tudo exige equilíbrio,
Só assim verei o sol novamente,
Como a lua quer ver o solstício,
Mas também o equinócio à frente.
Com a paz, viveremos melhores,
Construindo um futuro brejeiro,
Sempre tendo quem nos console,
Frente à morte que chega ligeiro.
Se eu fosse longevo em meus dias,
Viveria sem ter pressa e angústia,
Como o jabuti e uma simples cotia,
Num tratado de amor sem astúcia.
Viveria mais do que profetizo,
E seria o louvor das benzedeiras,
Andaria lentamente com objetivo,
Roendo os cocos das castanheiras.
Tudo eu faria de modo espontâneo,
Sem alarde, agonia e prepotência,
Seja em África ou no Mediterrâneo,
Mas vivendo com assaz paciência.
Vez em quando me veria um Hermes,
Mensageiro dos cometas e de Zeus,
Onde sentiria o odor de ciprestes,
Exposto em gôndolas de sonhos meus.