APESAR DE MIM
Bem antes da minha maturidade,
Pensava sobre essa minha valia,
Se viria depois da velha idade,
Ou quando jovem lhe alcançaria.
Apesar de mim, tudo perdura,
Seja o Everest ou a Patagônia,
E até quando a vacina me cura,
Apesar de que tanto me exponha.
Apesar de mim, esse mundo gira,
E me diz quem livre está preso,
Pois não sou quem rezou a gira,
Nem tocou atabaques bem cedo.
Apesar de mim, o dia amanhece,
Como a noite lhe dá sincronia,
E o verão quando chega me aquece,
Ou o inverno me lembra agonia.
Apesar de mim, ainda há marés,
E a lua continua o seu trabalho,
Faz o mar me lembrar de Noé,
Com o pombo dizendo o que valho.
Lá na praça, sentado num banco,
Havia pombos sujando tudo que via,
Com mil espantalhos lhes olhando,
Ou eu mesmo a refletir cada dia.
Apesar de mim, os rios transbordam,
Como em outro lugar estará deserto,
E quando as andorinhas me acordam,
É sinal que o verão já está perto.
Apesar de mim, tudo está longe,
Pois meus dias são giros breves,
Mas os dias em Plutão e do monge,
São longos e não entram em greve.
E, apesar de ti, a vida se mostra,
Sejam em meio à verdade ou mentira,
Como ainda terás dores nas costas,
Envergado ao chegar o fim do dia.
Só não queiram o fim das abelhas,
Nem duvidem do direito à vida,
Não dependam somente de estrelas,
Quando há sono e o eterno convida.