JOVEM E VELHO
Me vesti de vontades e sonhos,
Mas estava na primeira estação,
E o trem chacoalhou de risonho,
Sobre linhas, verdade e razão.
Todo jovem delira em quereres,
Se o tesão tem lugar da virtude,
E só buscam em prol de prazeres,
Sem saber se amanhã há quitute.
Se o jovem adentrar na caatinga,
Sem um odre e seu alforge cheios,
Talvez morra perante uma urtiga,
Se desconhece plantas e cheiros.
Só depois da juventude transviada,
E dos cabelos dispersos ao vento,
Talvez eu monte na mula listrada,
Como se fosse em África o evento.
Rasgaria uns papiros de cânhamo,
Ao escrever cartas por toda Bahia,
Enquanto o louco bolava um plano,
Porque a fumaça requer calmaria.
E atravessava o Atlântico de dia,
Numa velocidade ideal para pesca,
Mas por estar num negreiro agonia,
Chegou morto e o sol lhe atesta.
Mas um dia eu cresci e tô velho,
E ser velho é ter a pele curtida,
Com a morte dizendo: - te espero!
Mas, à festa, ela não me convida.
Por aqui quem convida é o diabo,
Encarnado em parceiros da luta,
Pois assim, eu acordo um soldado,
Dessas guerras e vidas injustas.
Mas certeza, eu sei, ninguém tem,
E assim, me despeço de alma lavada,
Só crendo que o castigo lhes vem,
Pois sou filho do dono da estrada.