ANDAR E FLUIR
Há dias para andar e fluir,
Onde podemos encontrar ar puro,
Mas quem quer fumar e sorrir,
Poderá me falar que eu aturo.
Eu respeito o gosto de todos,
E também quero ter só amigos,
Por termos o modo dos loucos,
Que confiam até nos inimigos.
Se sou alvo da inveja dos fracos,
São borbulhas dos seres macabros,
Que depõem no escuro dos charcos,
Comensais do que tenho e trago.
E aqui, alçando espaços e vento,
Vou nas asas de um neanderthal,
Escarnecendo como zurra o jumento,
Pois é fétido nosso lado animal.
Mas, às vezes, me deparo desnudo,
Como a foto revelada num estúdio,
Onde todas cicatrizes e meu luto,
Se expõem sem cor ou subterfúgio.
E estando diante ao seu sinédrio,
Há o clero, mas também leio a sutra,
E tergiverso sobre tudo o que quero,
Pois o rei não suporta minha culpa.
Sei que vou ter o cimo do tronco,
Confiscado por quem teme medusas,
Mas não olhem, senão lhes arranco,
Os segredos do graal que procuras.
Serás sempre o rei que tu queres,
Mas não queira me ter como servo,
E, quando muito, serei o alferes,
Como capitão da nau do desterro.
Só então, terei a rosa dos ventos,
Após me despedir de uma ninfa,
Pois nas Índias me deram acenos,
E numa praia o rio me deu linfa.