VÃO PROFUNDO
Qual o nome do dia antes do fim,
Quando o tempo se esvai no caos,
E o ser que pensou ter o marfim,
Viu a sua memória ir para o pau?
Quem foi elefante também morreu,
E nem se demonstrou mastodonte,
Pois tudo mudou e a neve correu,
Como deserto de areia sem fonte.
Como numa ilha morreu o vulcão,
Sobrou certas vidas de outrora,
Mas se houver uma nova erupção,
Corremos o risco de quem namora.
E assim é o mar de vão profundo,
Por onde insurgem ilha e penedo,
Que guardam os segredos do mundo,
Mesmo quando nos causam o medo.
É misterioso o céu de Galápagos,
Pois resguardam raras carapaças,
Mesmo longe de rios ou de lagos,
Ou desnudas de casas ou praças.
Só por isso me vem a mensagem,
Que nós homens somos precipício,
Se queremos terra como garagem,
E tornamos a vida mais difícil.
Nós temos os pés no acelerador,
Nos drogando como um benefício,
Pois um dia não vai ter doutor,
Mas provérbios de um malefício.
Tudo agora é drone e trem-bala,
Ou morada no mundo subterrâneo,
Porque pensam não ser a senzala,
Sem perceber que isso é engano.
Nos jogamos como potestades,
Abraçados em camisas de força,
Ao tentar conceber a verdade,
Mas verdades serão nossa forca.