AMIZADE E CHAPADA
Uma amizade depende dos corações,
E podemos tê-la até com os bichos,
Pois o ego só aflora nas paixões,
E o amor nos ilude nos caprichos.
Como é bom ser parte da natureza,
E entender de raios e tempestades,
Para só consumir sem ter avareza,
E não achar ser dono da verdade.
É um privilégio ver o curso do rio,
E de onde ou quando chego às águas,
Mas eu vi o índio que tanto sorriu,
Porque nas colinas há ocas e tabas.
Junto comigo, as aves testemunham,
E também as minhocas querem chuva,
Pois como nas matas temos pupunha,
É lá no serrado que colho as uvas.
Andei pelos grotões chapadeiros,
Pois são da Bahia esses recantos,
Com as grutas e a fé de romeiros,
E cachoeiras de tantos encantos.
Na Lapa do Bode ou pelo Buracão,
No Herculano e há Poço Encantado,
Lá tem a Fumaça e o Vale do Capão,
Mas a Fumacinha sugere um pecado.
Pecando talvez eu seja liberto,
Pois soam os sinos e estou aqui,
E assim é a luz em campo aberto,
Se colho morangos e vou ao Pati.
E certos momentos me lembram Ana,
Seja a irmã, a sobrinha e a amiga,
E junto com a neta de Dona Joana,
Ogum e Oxum não aceitam ter briga.
Naquele recanto lá em Ibicoara,
Eu sei ter cruzado os desertos,
E seus rochedos me lembram Nara,
E cada sorriso de nego liberto.
Por isso o café é da Produtiva,
E aquela fazenda nos faz feliz,
Pois provo a geléia e a cantiga,
Sentado à lareira que tanto diz.