OS DIAS QUE TENHO
Os dias que vivo são pelos palcos,
E cobram de todos nós sermos luz,
Porque tem agenda entre assaltos,
Que nos estupra, quando não seduz.
São nos picadeiros que viro palhaço,
Mas teimam achar que eu seja louco,
Pois sou mais que anjo no que faço,
E assim me disfarço de tudo um pouco.
Às vezes sou apenas leão na savana,
Tangendo as hienas que teimam em rir,
Ou vivendo do ócio numa vila romana,
Achando que o mundo não vai existir.
Mas tenho os dias de bicho preguiça,
Quando perdi o emprego de rei leão,
Ou fui ser o eunuco de uma odalisca,
Pois há mil sultões de arma na mão.
No meio de cada circo fui gladiador,
Desde quando não fui dente de sabre,
Servindo de graça à morte na dor,
Fingindo ser só alguém, você sabe!
Também já pulei cordas e voei,
E olhei para a goela do tigre,
Fiz jiboia engolir o meu rei,
Pois o rato faz parte do time.
Tive o corpo serrado em caixões,
E conde drácula sugou meu sangue,
Conversei com Jesus nas paixões,
E se me crucificam, não zangue!
Quem me julga aqui não é Deus,
Mesmo se juiz disser que o é,
Quando o atributo divino é ateu,
Pois Deus só crê no que tu és.
E assim eu assisto como jurado,
Dedicado a dizer só a verdade,
A qual construí num cercado,
Junto a bichos e não na cidade.