ORGULHO EM SEPULCROS
De nada adiantará ter orgulho,
Se a queda sempre vai chegar,
Pois chega o dia do mergulho,
E o velho escorrega a penar.
As nossas memórias são frágeis,
Porque Dom Alzheimer é cruel,
Por isso coloque as mensagens,
Em outra memória, além do papel.
Tem traças nas salas e estantes,
Como tem a gripe que nos mata,
Pois tudo é breve e os instantes,
Não são de distantes primatas.
Há tempos se escrevia na pedra,
Por causa dos cupins na cadeira,
Mas logo inventaram as tigelas,
E os versos com o vinho madeira.
Nossa garantia de estar cientes,
Se acaba na loucura ou embriaguez,
Pois todo hospício tem clientes,
Mesmo que não haja mais sensatez.
E se alguém não fala com pobre,
E nem cumprimenta meu tio preto,
Eu penso que seja só folclore,
Achar que o Brasil tenha jeito.
No mundo vicejam as discórdias,
Mas há socorro com cruz vermelha,
Enquanto nos sangram nas cordas,
Pois a cor comunista é vermelha.
Todos falam de Cristo e amor,
De paz e da necessária partilha,
Mas ao mesmo tempo há um doutor,
A dizer que o pobre é quadrilha.
E tudo se acaba em sepulcros,
Ou com carpideiras em orações,
Pois a vida que dura é lucro,
Se o amor nos trouxer emoções.