O QUE É MEU OU É SEU
O povo vive em reuniões,
Mas nem mesmo se encontram,
Vivem uma vida de ilusões,
Pois tanto se confrontam.
São gente que não se entende,
Pois não têm convívio social,
E estão todos como serpentes,
Enroscadas e prontas pro mal.
Vivem como se estivem juntas,
Porque é desse jeito a cidade,
Sem choupanas, ocas e grutas,
Mas em casas cercadas com grade.
Todos somos iguais na genética,
Diferindo na cor e semblantes,
Ou com digitais ou na fonética,
Pois viemos dos povos de antes.
No passado a distância foi muro,
Pois não tínhamos carro e avião,
E no roçado havia cobra e anuro,
Sem ter asfalto, adubo e ração.
Não falávamos sem ter a presença,
Pois faltava um sinistro celular,
Mas agora não há mais pertença,
Se não há tribo, etnia ou lugar.
Tudo agora é ganância e volúpia,
Não há leite e café, mas mistura,
Tudo é feito sem prumo ou lupa,
Que se tornam doenças sem cura.
A cultura é volátil e sem norte,
E ninguém mais contempla o cosmo,
Nem conhecem da noite e da morte,
Pois não sabem o teor de um solo.
Não sabemos a verdade ou receita,
Mas há quem queira ser como Deus,
E agora tudo é esquerda e direita,
Definindo o que é meu ou é seu.