NOITES DE FÉ NA BAHIA
Era noite de sábado ou de bar,
Pois todos estavam na escala,
Naquela brisa da beira do mar,
Bem diante do Porto da Barra.
É assim viver perto da praia,
E ouvir o chamado das sereias,
Quando elas se vestem de saia,
Ou jogam seus corpos na areia.
É possível se achar a solidão,
Mesmo estando no meio de gente,
Porque cidade grande é ilusão,
Mas ali todos são indigentes.
Mesmo quando as festas convidam,
É para o Bonfim que vamos à pé,
E na lavagem as freiras avisam,
Que nessa missa tenhamos mais fé.
Mas entre santos e os orixás,
Vou em busca de Axé e proteção,
Mas também vou de banhos e chás,
Ouvindo a escritura com emoção.
Quem diria lá pelas estrelas,
Que a noite na Bahia é com fé,
Se no mar cabe todas centelhas,
De um fogaréu visto de Nazaré.
Nessa Bahia de todos os Santos,
Não há ciclone, mas Porto Seguro,
Lá também meditamos sem cantos,
Se há queima de Judas no escuro.
Quem tem fé toca até atabaques,
Pois o êxtase vem com o tan-tan,
E quem pensa que tudo é sotaque,
Vem ouvir o baianês de manhã.
Tudo aqui tem um ôxe ou oxente,
Pois na gíria um baiano é legal,
Seja num Pelourinho plangente,
Ou na reza com nosso ancestral.