CHIQUEIRO E A VIDA
Montei o meu chiqueiro na Bahia,
E escolhi um vale cheio de rios,
Misturando terra quente e fria,
Pois meu bode não quer calafrio.
Minhas cabras conheceram umbuzeiro,
Quando a seca inclemente ocorreu,
Foi assim que eu lembrei Juazeiro,
E o sertão donde meu bisa correu.
Minha herança vem do catingueiro,
E do povo de um vale no agreste,
Entre a mata e o sertão inzoneiro,
Com as manhas de cabra da peste.
Morando em casa de taipa sob chuva,
Vi muitos barbeiros, rãs e cobras,
Vi as sabiás e o choro da viúva,
E chupava cana e colhia abóboras.
Todos garotos ajudavam os pais,
E desde a infância, indo à roça,
Onde os candeeiros fediam a gás,
Mas evitava o mosquito que coça.
Depois, na cidade, fui cobrador,
Enquanto a escola nos lapidava,
Em turnos de aluno e trabalhador,
Por entre salas, ruas e estradas.
Buscar ter diploma sob o Equador,
Longe de gregos, heróis e família,
Nos fez ter a sina de questionador,
Ao ver que o mundo não é uma ilha.
Por querer estrelas eu mirei a lua,
E quem está lá vê a vida de fora,
Pois enxerga o que não vejo na rua,
Ou cada pegada no andar da caipora.