UM FILME NO TREZE DE MAIO
Eu hoje assisti a um filme,
E voltei no tempo e na dor,
Eu vi uma chibata tão firme,
Pois foi tempo do Imperador.
E foi lá no treze de maio,
Que senti o peso do engodo,
Pois eu era somente lacaio,
E comíamos junto ao esgoto.
Mas era manhã do dia quatorze,
De um maio sem farda e pistola,
Que me jogaram de cima da torre,
E a bastilha foi minha escola.
Eu não tinha onde ir ou morar,
Então, fui logo subindo o morro,
Sem ter roupa e nem um colar,
Só o orixá foi em meu socorro.
Me ensinaram a crer no diabo,
E achar que tudo é bem ou mal,
Indo para guerra como soldado,
Ou sendo peão em um canavial.
A escravidão me escondeu da lei,
Mas perdura até hoje nas favelas,
Ou pelos guetos por onde andei,
Em velório de irmão sem as velas.
Quando falam de ser cidadão,
Não incluem índios e pretos,
Pois a alma é só do cristão,
Que apenas se veste de preto.
E as batinas são a distinção,
De quem cultua os seus orixás,
Mesmo que a fé seja uma ilusão,
Pois a morte não podem evitar.
E assim, dizem que não mereço,
Pois sou bicho sem alma e valor,
Me torturam enquanto eu padeço,
Sem ter direito à paz e ao amor.
Meu consolo é que todos morrem,
Seja eu ou também cada doutor,
Pois o preto eles não socorrem,
Mas o câncer do tempo é senhor.