PROFUNDOS TANQUES
Me disseram que eu fosse Índico,
Mas também que eu fosse Pacífico,
Mas sou o segredo afro-ameríndio,
E o Atlântico é que diz onde fico.
Eu já naufraguei navios e amores,
Levei o Titanic e todos baleeiros,
E faltavam os mais nobres pudores,
De quem foi ao céu em cruzeiros.
Dentro de meus profundos tanques,
Sou o peso da água que também mata,
Sou uma casa de luz sem palanques,
E o palco que não cabe um primata.
Na água eu não tenho caule e copa,
Não pousam harpias e nem as corujas,
Só passam albatrozes e as gaivotas,
Porque só Netuno permite que fujas.
Se acaso não respeitares os mares,
Direi que irás morar lá no fundo,
Junto com cachalotes e os altares,
Que não se permitem ser latifúndio.
E os homens que desafiam o oculto,
Terão por surpresa o final suspiro,
E em toda angústia perante o luto,
Se é que dá tempo diante dos tiros.