A BARBEARIA
Eu estava a andar na alameda,
À procura daquela barbearia,
Porque onde andei, só labaredas,
E o inferno que me consumia.
Pensei que só haveria bem e Céu,
Mas o mal teima, enquanto queima,
Serão os demônios ouvindo Noel,
Ou aquele bar onde não há poema?
Não gosto de quem se diz doutor,
Quando galhardia é ter carruagem,
E todo asco de um estrume retrô,
Vem da flatulência ou da estiagem.
Andei nas ruas de Sampa e Belô,
Mas também vi Salvador e Vitória,
E ao olhar para o retrovisor,
Eu ouvi do barbeiro a história.
Que ali toda fofoca é de vocês,
Pois já não vivo os tempos idos,
E até quando lá falta o freguês,
Se a barbearia atende a bandido.
Naquela cadeira de uma capital,
Corre o risco de sentar piratas,
Porque não há mais perna de pau,
E os tiranos governam com facas.
Vi várias pessoas no elevador,
E ninguém me olhava nos olhos,
Desde quando morreu o meu avô,
E não pintei seu quadro em óleo.
Como seria eu dizer sem palavras,
Quando todos adentraram a caverna,
E as sombras da noite são pragas,
Que distorcem o Sol com as velas.
Mas as velas ao vento se apagam,
E quem tá na caverna nunca sabe,
O que passa com os que cavalgam,
Pra o destino que não mais vale.