SANGRANDO O PLANETA
Estavam em frente da casa,
Só não viram sirene alguma,
Mas não havia gente na taba,
Pois quem vigia é um puma.
Todos temem aquele felino,
Se ninguém lhe viu filhote,
E mudaram para esse destino,
Pois o aluguel tá de morte.
Os bichos estão na cidade,
Depois de irmos pro campo,
Pois aqui não se caça à vontade,
E bicho não serve de escambo.
Tudo está mudando de jeito,
Pois é moderno comprar comida,
E hoje plantam com os efeitos,
Mas o veneno é praga maldita.
Já não há tempo para crescer,
E adubamos tudo com o fermento,
Se os hormônios terão o prazer,
De gerar câncer até em jumento.
Nossos adultos já são gigantes,
Mas adoecem desde a juventude,
Pois a galinha tem conservantes,
E mesmo um porco virou quitute.
Ninguém mais vê beira de rio,
Pois lá só tem esgoto e rato,
Compram os peixes num barril,
E o tempero já não é barato.
Vivemos a tal contemporaneidade,
Mas esquecemos o que percorremos,
Que durou muito mais que metade,
E nos diz porque ainda vivemos.
Nós estamos sangrando o planeta,
Numa pressa que não chega a nada,
Pois o mundo não quer a conversa,
Mas ações que permitam a jornada.
O meu fim estará sempre perto,
E o meu ancestral dá risada,
Pois não sou dono do Universo,
Que dirá se não amo mais nada.