SEMENTE AO CAMINHAR
Bem diante de vales e rios,
Meu caroço quer só conceber,
Quer adentrar em solos gentios,
Seja na noite ou no amanhecer,
Ser semente é pensar em raízes,
E ter a coragem para se jogar,
Se expor às chuvas ou deslizes,
Saber que o caule pode tombar.
Se eu quero viver comunidade,
Vou criar cidades como um lar,
Sendo aconchego e praticidade,
Com amabilidade até no sonhar.
Antes de odiar eu devo amar,
Aprendendo a ser útil e bom,
E, com jeitinho, ao sussurrar,
O que ecoa por verbos e dons.
Antes de culpar eu vou perdoar,
Pois só assim almejarei o éter,
Vou ser exemplo ao caminhar,
Mesmo ao Sol ou sob Vésper.
Não vou resmungar da bagunça,
Que fazem os gatos e os cães,
Nem reclamar o porco que fuça,
Ou o guará a furar os melões.
Tudo na terra vive sem nós,
Mas dependemos até da preá,
E por ter algo maior que nós,
Eu imagino sem medo de amar.
E assim, vou deixar pra vocês,
O que penso, escrevo e falo,
Pois o jeito patrão e freguês,
Foi o modo do que lhes declaro.
Nós vendemos o que fabricamos,
Se os conselhos são de graça,
Mas o profeta nós crucificamos,
Mesmo sendo evangelho na praça.