DIANTE DE ÁFRICA
Quando estou diante de África,
Eu relembro de mães e de pais,
Vejo no torço de seus cabelos,
A realeza dos meus ancestrais.
Lembro que de lá vem a semente,
Que perdura nos dias de agora,
Como a face que tenho na mente,
E nas moedas de tempos afora.
Estar em colóquio com a Bahia,
Só me diz que também vim de lá,
Nos navios negreiros sem guia,
Pois o guia não tinha o Orixá.
Dos bantos eu trago os traços,
Sem poder esquecer do yorubá,
Pois há jêje em tudo que faço,
Com o colo de Oxum e Yemanjá.
Sou taurino e ligado a Oxossi,
Mas quem dita o andar é Ogum,
Mesmo que Xangô queira a posse,
Ou Oxumarê se mostre ao Òrun.
Mas a vida é de tantos mistérios,
Que talvez se veja nos sonhos,
Porque eles são mais que etéreos,
E por isso eu macero os banhos.
Quem já viu o sumo das folhas,
E banhou-se também no sereno,
Sabe o valor de cada escolha,
Como sabe o temor do veneno.
Quem tem um Orixá como guia,
Também pode olhar no espelho,
Como ouvir os sábios e os dias,
Pois o tempo é nosso conselho.