COISAS E POEMAS
Nas vezes que fomos só coisas,
Olharam somente a estética,
Serviram a comida nas louças,
Sem tempero, cheiro ou ética.
Fizeram de acordo ao cinema,
Com riqueza de cor e cenário,
Mas o molho não tinha pimenta,
Nem a mesa de jogo o baralho.
Tudo era somente para se ver,
Como estátuas vistas em museus,
Que se nada disserem a você,
Não saberá qual o rosto de Zeus.
Nas vezes que fomos poemas,
Nem todas as linhas disseram,
E quem foi Alencar ou Iracema,
Se o Tronco do Ipê incineram?
Nem tudo foi dito ou escrito,
Pois há mil idiomas nos vales,
E nem tudo foi ouvido ou lido,
Nem foi visto pelos compadres.
Mas se houver algo não dito,
Sobre o que está no passado,
Eu só nego ou até acredito,
Se foi sob o mesmo telhado.