MINHA POESIA E O PODER
Do mesmo jeito de Luiz Gonzaga,
Eu também não sei de Mi Bemol,
Pois a minha poesia só é paga,
Do que faço sem bala ou paiol.
Os meus versos eu não estudei,
Pois meu jeito foi autodidata,
Foi assim que pediram uma vez:
- Me faça um soneto de graça!
E eu disse a ela, sem ilusões,
Só escrevo no modo que sinto,
E só sei fazer rima com ações,
Ou sibilando meu verbo ferino.
Tenho a crítica a cada sistema,
Como mola aos reclames que falo,
Mas não é pessoal, nem há pena,
Pois, se não concordo, não calo.
Já me vi na chibata e no tronco,
Desde que não aceitei ser besta,
Despojado de querer um encontro,
Com quem oculta veneno na cesta.
Mas vi na história os exemplos,
Vi Cesar, Antônio e Cleópatra,
E tantas serpentes nos templos,
Que até meu discurso se esgota.
Eu vi maus exemplos pela vida,
Como vi Cipião xingar Cartago,
Tudo pelo poder que o convida,
Mas também lhe engana de fato.
Nunca houve um império eterno,
Ou o nosso poder transcendente,
Pois tudo é mudança e desterro,
Desde quando me acho imanente.