EXISTÊNCIA, PONTOS E VIRGULAS
Quando escrevo há as vírgulas,
Mas também ocorrem reticências,
Só os pontos impedem o que liga,
Pois costuram nossa consciência.
Os homens já foram mais loucos,
E talvez tenha sido com chumbo,
Não o chumbo de tiro e pipocos,
Mas o mineral que há no mundo.
Hoje a vida escorre em perigo,
Pois é banalizada nas colméias,
Que são nossas casas e abrigo,
Mas também são como odisséias.
A tempestade está por todo lado,
E os tiros ecoam nas esquinas,
Somos almas e corpos mutilados,
Se o poder dilacera e calcina.
As vontades não acham os passos,
Pois não há previsão e caminhos,
E assim somos bichos nos pastos,
E os pastores são como espinhos.
Até quando viverei de tristeza,
Se reclamo encontrar o sorriso?
Pois há sede! E, estarmos à mesa,
É convite pro chá que é preciso.
Nossa gente destoa da renúncia,
Pois nunca se pode ter de tudo,
Mas não queiram a subserviência,
Só o respeito ao meu eu matuto.
Tem gente que se acha intocável,
E praticam versões de caudilhos,
São os donos em modo indomável,
Como os pistoleiros e os tiros.
Mas a regra do mundo é mistério,
Quando não sabemos além do luto,
Pois a morte é o fato mais sério,
Mas permite deixarmos um fruto.
É aí que lhes cobro consciência,
E um olhar para a ancestralidade,
Pois ela é a razão da existência,
Ao deixar-mo-nos viver à vontade.