COM AS TÁBUAS
Em todo meu antes eu sabia querer,
Vivia de aplausos do que já fiz,
Sorria sem medo do que há de ser,
Em dias de guerra ou lá em Paris.
Num canto da sala ressoa meu eco,
E ela ouviu o que nunca se diz,
E veio feroz, tropeçando seu ego,
Cortando a garganta desse infeliz.
Quisera, Senhor, que eu nada fosse,
Pois, já despostado, eu nem respirei,
Olhando os alvéolos em meio à tosse,
Que tive nos sonhos que ainda sonhei.
Devia ter um novo Diretor na escola,
Pois o velho agrega o surto nefasto,
E vão nas refregas de merda e sola,
Que o par de sapatos usa nos pastos.
Quem foi, disse o trágico elfo,
Quando eu estava à sua procura,
Por causa de um mago meléfico,
Pois seu mundo não cede a cura.
E eu só falei ao seu ouvido,
O que desejei com mais clareza,
E os vagalumes faziam zunidos,
Com a agonia de cada incerteza.
Se Deus permitir, viverei outro dia,
E vou repetir alguns passos que dei,
Mas posso ecoar toda minha heresia,
Numa fantasia com as tábuas da lei.
Se não matarás, porque tanto se mata,
Se não roubarás, porque nada retenho,
E porque guardar os dias que exaltam,
Se a nata é leite que já não tenho.
Não creio em dias, mas sim no tempo,
Por causa do giro que dá um planeta,
Pois quando estou em Marte ou Vênus,
O dia difere e eu procuro um cometa.
Fui perto de Andrômeda e vi Cão Maior,
E todas já estão convidadas pra festa,
E o choque que vi me disse que o Sol,
Não vai resguardar o meu corpo poeta.
Por isso, eu reclamo e ora declamo,
Pois ecoará pelo caos o que eu digo,
Nem que seja dizendo que tanto amo,
Ou que não sou a paz que mendigo.