TEMPO DE PROVAÇÕES
Folhas secas viveram emoções,
Tão soltas que sujaram o chão,
Como o anúncio entre estações,
De cada inverno versus verão.
A flor se mostra no espirro,
Querendo ser fértil de odor,
Servindo ao vento o cultivo,
E a abelha lhe dar um sabor.
Vejo o mel com sabor de caju,
Ou sabor de boas laranjeiras,
Mas tem mel de abelha uruçu,
Ou de mandassaias brejeiras.
Chega um tempo de provações,
E o mar mudou pra bem longe,
Pois não há mais as estações,
E Buda não tem mais um monge.
Já não chove de modo ordeiro,
E o calor é conflito no frio,
Não há mais fruto de janeiro,
E as aves já não dão um pio.
As revoadas de patos findaram,
E as baleias não vão a Abrolhos,
Pois os mares não lhes afagam,
Desde quando sufocam com óleos.
O progresso humano é mistério,
Pois destrói o que não retorna,
E essa loucura é algo tão sério,
Como nossa extinção já à porta.
As sequóias estão se extinguindo,
Como inúmeras espécies de bichos,
E os desertos avançam sorrindo,
Com vulcões suspirando esguichos.
A Terra treme em um descompasso,
Ao girar junto ao Sol que gravita,
Pois o homem roubou seu compasso,
E o vendeu em uma feira maldita.
E o comprador já está no mausoléu,
Pois lhe chamam de buraco negro,
E consome os dias e noites do céu,
Não dando um minuto de sossego.