UM INQUISITOR
Saiu da cidade e foi rumo oeste,
Buscando no mato ter inspiração,
Ou para ser como cabra da peste,
E apenas fugir de mais confusão.
Ninguém sabia da hipocrisia,
De cada honesto ao seu lado,
Que se disfarçam numa sacristia,
Mas tramam como o cão danado.
Quem tinha a roça de melancia,
E lá gerava seu extraordinário,
Foi sob ordem para delegacia,
E lá roubaram até seu salário.
Tudo por causa de um 'traíra',
Que quis ter o poder de fato,
Como tupinambá e não caraíba,
Devorando o seu corpo mulato.
Foi num certo dia na praça,
Sentado na sela do mustang,
Onde o algoz não se disfarça,
E declama querer seu sangue.
Diz que não sossega na vida,
Se não destruir quem odeia,
E monta seu ardil e convida,
Cada besta que gosta de peia.
E assim, fica o pobre malungo,
Ainda vivo, numa louca agonia,
Torturado dia a dia no junco,
Em açoites que tanto ardia.
Só não sabem que anjos existem,
Para dar o consolo que cativa,
E a providência a quem persiste,
Com a fé e retidão preventiva.
E, desse jeito, finda o poema,
De um justo cedido à discórdia,
Ante um inquisitor de cinema,
Mas foi tão real essa história.