AURORA E OCASO
O progresso dá o prazer de viver,
Mas também dá acesso à beligerância,
Faz Sócrates tomar cicuta por saber,
Ao ser longa a nossa intolerância.
O erro humano talvez seja andar,
Pois se arrastasse veria o atrito,
E todo esforço de erguer e sonhar,
Podendo acabar sob um meteorito.
O nosso planeta é mais que acaso,
Pois é sortido de cores e vida,
Estando entre a aurora e o ocaso,
Na poeira do cosmo que nos valida.
Eu vi na estrada cometas e satélites,
Mas nem sempre tem vida em conjunto,
Pois a via de leite é o meu agreste,
E ela tem luz, mas nem tudo é fecundo.
Quando nosso Sol está no outro lado,
Tem radiações e mistérios profundos,
Como o mar e o abismo não é um lago,
Mas até no lago há brumas sem rumo.
O mais engraçado é o que se conecta,
Do macro-cosmo até o núcleo atômico,
Como a agonia mais clara e concreta,
Que não me revela o lado cômico.
Iremos buscar entender algo sério,
Mas ainda é preciso usar a cabeça,
Sair para além de um terço mistério,
E ser a proposta que nos engrandeça.