NINGUÉM VAI COMPREENDER
Minha vida só presta pra mim,
Pois só sei do convívio comigo,
Se a humanidade quer nosso fim,
Então, cadê o cordão do umbigo?
Desde o dia em que eu nasci,
Vi que a vida é sem compaixão,
Pois não vale a pena o que vi,
Se vivi para lhes dar ilusão.
Ninguém vai compreender o poeta,
Porque ele não tem o seu tempo,
Vive o tempo sem curva ou reta,
Mas também não é ponto no vento.
Ter orgulho de ser não ajuda,
Se o valor se difere no acordo,
E não pensem viver com a batuta,
Pois o músico pode estar morto.
Quem nos rege debocha da regra,
Pois os homens inventam as leis,
Quando escreve o que não prega,
Que não sei, por isso eu calei.
Se há jogo ninguém quer perder,
Mas jogar não tem regra pra dor,
Tudo vale enquanto há o poder,
E o poder nos corrompe o pendor.
Sei que somos divinos e inquietos,
Mas ninguém respeita os mistérios,
Desde quando não somos só objetos,
Sendo frutos, bem mais que louvor.
Somos a maior incógnita do caos,
E por isso é que Deus é a razão,
Pois o livre arbítrio é meu mal,
Quando erro e não faço a lição.