O NU DO PLANETA EM MIM
Os dias que tenho estão no porvir,
Se nos dias vividos não há pertença,
E no amanhã eu talvez vá sorrir,
Se a lágrima não provir da doença.
Talvez isso seja alguma verdade,
Que um carro velozmente devora,
Pois a imagem terá só a saudade,
Quando o tempo é mais que demora.
Guardados cá dentro toda história,
Mesmo a que não tenhamos vivido,
Quando achamos que somos o agora,
E o resto é um mistério assumido.
Mas está tudo guardado no cofre,
Que meus núcleos teimam em calar,
Pois os traumas são do que sofre,
E não de quem apenas quer o luar.
Alguém já me disse que não há morte,
Mas há transferência do nosso saber,
Passando adiante de azar e de sorte,
E humanizando o que até pode ser.
Queria ser mais que um golfinho,
Mas tendo a força de uma formiga,
Ou deveria aguardar pelo caminho,
E saber quem é de paz ou de briga.
Mas um dia aprenderei a conviver,
Pois só ter não me diz o que sou,
Quando o bom deve ser lhes dizer,
O que ainda ninguém conversou.
Só assim servirei de gameta,
E o zigoto dirá não ou o sim,
Pois escondo o nu do planeta,
No retrato da luz sobre mim.