NAS MANHÃS E NOITES
Meu anseio é que me leias,
Pois um dia terei de partir,
Para ser um conto de sereias,
E esse meu corpo eclodir.
Vou querer estar por perto,
Bem mais que nas fantasias,
Pois assim estarei liberto,
Se é que escrevo heresias.
Virei nas manhãs e noites,
Entre girassóis ou corujas,
E, ao vento, me sentir açoite,
Por incomodar com as chuvas.
Serei só o singelo cobertor,
Que nas noites de frio afaga,
Sussurrando um vento labrador,
Nos desertos em que tu divaga.
Levarei meus poemas por águas,
Como os peixes alcançam o mar,
E se eu posso curar tuas mágoas,
Quero então só poder declamar.
Não espere que eu diga o que queres,
Pois nem sempre eu fui de agradar,
Mas só queira o meu verbo que fere,
Porque te fere o que vai melhorar.