DESNUDO EM MARTE
Estava tudo tão desnudo e seco,
Que pensei me achando em Marte,
Ou seria numa lua em sossego,
Desde o dia que fosse na morte.
Mas eu vi a roseira com a mosca,
Pois agora não tem mais abelhas,
E as flores pareciam tão roucas,
Que o vento acendia as centelhas.
Tinha fogo e, por isso, acordei,
Logo vendo ainda estar na Terra,
Se em cada jogo que não decifrei,
Tem quem ganha e daqui nada leva.
São nesses dias de cela ou gozo,
Que lamento e alegria contrastam,
Pois se o cheiro vier de um lodo,
Nada importa se é gado que pasta.
Mesmo assim, terei meus pêsames,
Quando as pétalas caírem no chão,
Pois a terra tem sempre fregueses,
Como há covas de rei ou leão.
E em cada mesa vejo um tabuleiro,
Com as peças que são discriminação,
Pois ninguém mata a côrte primeiro,
Desde quando há escravo e peão.