EM NOITES DE OCASO
Quero ser a língua do vento,
A lamber a areia da praia,
Ou ser uma vela em convento,
A queimar suas bruxas de saia.
Eu prefiro sonhar meu lamento,
Sem ter de provar suas dores,
Para sobreviver à contento,
E poder decorar com as flores.
O verso de lamúria e cansado,
Pode ser somente um sussurro,
Mas também pode ser despostado,
Na memória despida de orgulho.
Gosto de ouvir os miseráveis,
Pois sei quem não tem o amanhã,
Onde saberei o quão improváveis,
São as orgias de Baco ao divã.
Quem se foi nessas noites de ocaso,
Saberá dizer ao senhor do mistério,
Se houve gozo ou apenas um caso,
E se foi na praça ou monastério.
Só por isso andei nas tabernas,
E bebi em cada taça o meu suco,
Recolhido nas velhas cavernas,
Onde escorre meu sangue matuto.