MOMENTO OU EVENTO
Já viajei e as viagens continuam,
Como etapas rotuladas de sangue,
Onde as fases e idades se aturam,
Reviradas por intrusos e gangues.
Num momento é um passo matutino,
Onde a vida mostra e desabrocha,
Pelas veias e escaras do menino,
Que matizam a ostra e a cabrocha.
Noutro evento há um passarinho,
Tresloucado em um estradeiro,
Que é a visita a um novo ninho,
Com a saudade de ser estrangeiro.
Mas depois há de ser construtor,
Num ideal de estar em família,
E faz seu caminho de professor,
Que foi bom ator lá na bastilha.
Depois do corpo se transfigurar,
Terá de andar e arfar pela trilha,
E atravessar rio, ponte e o mar,
Sem enjoar de dançar quadrilha.
Fardão ainda vai ter que usar,
Mas antes foi da bala a vítima,
Porquanto não há de se escusar,
Ao passear na orla marítima.
Não tem mergulho pra não afogar,
E aquela farda virou tormento,
Seja na escola e ao trabalhar,
Mas só Deus sabe dar provimento.
E o bom mesmo é saber-se poeta,
Que se assusta com o mar tamanho,
Na eterna guerra sem ter escopeta,
Pois ser normal é algo estranho.
Mas quando a lida é de sul a norte,
Será que é sorte ou é castigo,
Por se escutar, após ter a morte,
Alguém dizer que é seu amigo.