TEMPO NOVENTA
Já ouvi um cântico de 90 milhões,
Mas foi na epopéia da copa de 70,
Onde uns milicos queriam paixões,
Com pão e circo e toda tormenta.
Hoje eu giro por noventa dias,
Na expectativa da fome clemente,
Mas sempre tem carros e rodovias,
Levando o futuro de cada semente.
Um quarto de ano tem esse tempo,
Que são só três meses de agonia,
Onde estações são como eventos,
Com ciclos alternos em sintonia.
Pra quem já viveu várias décadas,
A espera dos dias é algo normal,
E se hoje não há mais povo asteca,
Posso dizer que viver não faz mal.
Saudades eu tenho do ente finado,
Mesmo quando achei ser um chato,
Pois nem tudo é do nosso agrado,
Quiçá quando o pé está inchado.
Só sabe da dor quem está ferido,
Ou já combalido pelas moléstias,
Mas também sofre quem foi traído,
Por quem não se pauta em modéstia.