ENQUANTO HOUVER GIRO E SOL
Ninguém será eterno na carne,
A não ser o mamute da Sibéria,
Mas só esse morreu sem alarde,
E viveu sem ver nossa miséria.
Temos tudo pra sermos melhores,
Mas o nosso caráter nos trai,
Mesmo com o exemplo de Sócrates,
Tomando a cicuta, sem dizer ai.
Mas enquanto houver giro e sol,
Que permitem ver nossa viagem,
Serei como age um girassol,
A buscar a luz que dá coragem.
Pois não somos uma cobra cega,
Ou também a minhoca ou toupeira,
Que prefere somente o que pega,
Mas não sonha nem é carpideira.
Nós sorrimos e também choramos,
Num viés de alegria ou tristeza,
Mesmo quando há tantos enganos,
Por não saber como será a mesa.
Quem se serve antes do 'permisso',
Pode ser que pague uma prenda,
Se não sabe cumprir compromissos,
Desde quando nem os compreenda.
Eu sei que o céu é nossa busca,
Pois com ele ninamos os sonhos,
Mas há dias que a névoa ofusca,
E até o fusca nos põe tristonho.
Quem já quis ser dono de carro,
Não sabe o valor de quem anda,
Como a serventia de um jarro,
Não é como a flor na varanda.