VIDA DA VIDA
O sertão tem os dias mais quentes,
Com as noites de expresso lunar,
Onde o chão vê estrelas cadentes,
Como as focas se espojam no mar.
Se a morte chegar inclemente,
Vai ser duro ter que enterrar,
Pois o chão é duro pra gente,
Que não sente nem pena do mar.
Nós sujamos a tudo sem hora,
Pois vivemos de se lambuzar,
Mas há dias de Nossa Senhora,
A dizer que o fim é pra já.
Nós não somos longevos aqui,
Como rochas que forjam planetas,
Com seus bilhões de anos a rir,
De quem partiu fazendo careta.
Tudo aqui é mais dor que alegria,
Donde a dor sempre chega primeiro,
Vindo em parto que é uma agonia,
De um barco que fui estrangeiro.
O colo de mãe nunca é eterno,
Mas resguarda a boa lembrança,
De saber que o primeiro berro,
Vai ser quando saímos da pança.
Como é bom ser a vida da vida,
Diferente de um produto vendido,
E saber que essa vida furtiva,
É melhor do que não ter vivido.
Hoje eu penso nascer selenita,
Pois ali meu vulcão está morto,
Onde o seu terremoto não agita,
Mas o clima já não dá conforto.
Toda hora me chega asteróides,
E cansei de sentir-me ausente,
Como um príncipe ante Herodes,
E a cabeça sendo um presente.