A VIDA ERA SIMPLES
A água não parava de escorrer,
Até mesmo em uma sexta-feira,
Não por causa de submergir,
Mas no cesto que uso na feira.
Lá eu tinha alguns panacuns,
E meu jegue dormia na esteira,
Tudo enquanto eu fazia jejum,
Mas foi penitência da freira.
A vida era simples em partilha,
Com parentes e casas de farinha,
Porque tudo reunia as famílias,
Até mesmo na tristeza e agonia.
Tinham datas para cada ritual,
No início do ano e no São João,
Ou do dia das mães até o natal,
Porque todo dia era de oração.
Fazer os pedidos era normal,
Pois a necessidade era tanta,
Mas agradecer era mais natural,
Se vai de encontro à esperança.
Eu sei que vivi sem tecnologia,
Em casas de taipa ou de adobão,
Com sabores do que a mãe cozia,
Carregados em carrinhos de mão.
Eu também vivi na transição,
E deixei de usar o telégrafo,
Mas também se foi o orelhão,
E só um celular eu carrego.
Foi-se a época de escrever cartas,
E aquele namoro que era distante,
Pois que hoje a gente se farta,
Ou infarta e morre num instante.