ATÉ QUANDO
Deus sabe até quando estou vivo,
E as razões de eu viver e sofrer,
Só Deus pode renovar o meu livro,
Descrevendo quais versos vão ler.
Se em cada tempo existe um lugar,
Ou se vou servir como argumento,
Poderei ser como pedra de lagar,
Onde a videira é o meu alimento.
Só vou descansar de cada exílio,
Depois de fazer o que Ele me pede,
Embora não saiba se cabe castigo,
Querer ter a lua como Ganimedes.
Quem quer ter demais é um pobre,
Então, aprendi a viver despojado,
Servido da única moeda de cobre,
Porque sou poeta de um só cajado.
Os tempos de farda eu devo esquecer,
Porque um peão serve a rei e rainha,
Mas bispo e cavalo não irão perceber,
Os poemas que eu li na camarinha.
Que Deus me permita ainda escrever,
Posto em papel e num livro bacana,
O que fiz na lida para sobreviver,
E ter de sofrer com gente sacana.