SER BOM ALÉM DE PASÁRGADA
Ouvi mais uma música triste,
Sobre os jovens bons e a morte,
Mas eu sou quem sempre insiste,
Dizer que ser mau não é sorte.
Pra ser eternamente só bom,
Tem que morrer logo ou cedo,
Ou ter vida eterna por dom,
Que faz natimorto ter medo.
Nos proclamas de quem se casou,
Não se diz sobre datas do fim,
Mas tem chama que se apagou,
Até antes de ter meu marfim.
Eu pensei como ser um elefante,
Com a memória que planta o jardim,
Mas não serei imortal ou infante,
Se a coroa não está sobre mim.
Alguém disse que amar é eterno,
Mas não foi amante mais que eu,
Se não pôde escrever no caderno,
O que tem nos papiros que leu.
Vida longa distrai a memória,
E por isso eu morro tão jovem,
Se não faço parte da história,
Sendo contra viver sob ordem.
Sigo apenas na força dos ventos,
Ou no curso das águas dos rios,
Sendo o fogo que está a contento,
Pra quem teme sentir calafrios.
Sou aquele que aceita o tempo,
Mas registrou as luas passadas,
Pois alguém vai ver no cimento,
Cada marca das minhas pegadas.
E o resto será de quem fica,
Ou se vou repetir a jornada,
Seja aqui onde logo se gripa,
Ou num voo além de Pasárgada.