ESTIVE A CAÇAR
Enquanto estive nas árvores,
Fui sendo uma harpia a caçar,
Pois de cima eu via lugares,
Onde há cobras a rastejar.
Tinha o vento como carícia,
Quando eu me aquecia ao Sol,
Mas o prato dito delícia,
Era a lebre e não caracol.
Fui também a nuvem que passa,
E lembrei ser sombra no mar,
Onde eu vi a orca na caça,
Se esforçando para o jantar.
Eu não sei além do agora,
Pois fui índio sem registrar,
E quem sabe foi antes da hora,
Pois morreu de tanto sonhar.
Onde estou no dia de hoje,
Não tem placa dizendo o local,
Mas eu creio que nada me foge,
Por eu ser só um cara normal.
Se eu não prestasse eu diria,
Porque não tenho papas na língua,
E o que sinto é o que me guia,
Desde quando eu sou da caatinga.
Foi assim que bati numa porta,
A dizer: ô de casa! e bom dia!
E criei a galinha e a porca,
Ao plantar milho e melancia.
Fui brincante com flor e abelha,
Ao prender uma europa na tulipa,
E no tanque eu vi a lavandeira,
Com os camaleões e suas cristas.
No chiqueiro também vi o bode,
E as cuiubinhas junto ao sabiá,
Onde eu imaginei o que se pode,
Pois vi um bando de lobo guará.
Desse modo, meus dias são sonho,
Pois nem sei o que vou encontrar,
Mas o que me faz ser tão risonho,
É saber que Deus fez o meu lar.